Vivi a infância nos anos 80, época de ouro em termos de liberdade e criatividade para o mundo infantil. O Atari começava a deslumbrar minha geração com seus gráficos pouco arredondados, mas mesmo assim, criança ainda era criança, se comportava como criança e, principalmente, brincava com outras crianças.
Hoje, a preocupação é com a violência, não com a liberdade. É com o meio ambiente, não com o ser humano. Com o bom comportamento, não com a consciência e a sociabilidade. Tudo torna impossível uma criança viver amplamente sua infância, característica vital para o surgimento de adultos completos, sem frustrações.
Brincar na rua de hoje é um atentado ao bom censo dos pais. E brincar de polícia e ladrão então... virou até crime. Ah que saudade das armas de brinquedo que usávamos para disparar tiros de brincadeira contra nossos amigos, que rolavam no meio do mato, atrás de morros ou cupinzeiros para continuarem "vivos" na brincadeira. Fosse hoje, seríamos considerados marginais em treinamento para assaltar com armas de mentira.
E quem, nos anos 80, não roubou goiaba ou mexerica do pé da casa do vizinho? Em casa, a cesta podia estar cheia de goiabas grandes e vermelhinhas, ou de mexericas suculentas e docinhas, mas era a goiaba pequena, dura e bichada que mais enchia nossos olhos, ou a mexerica pequena e azeda. Lembro-me de uma noite fria de inverno em que eu e meus amigos nos fartamos de chupar mexericas roubadas. Nem o sal, trazido gentilmente por um de nossos colegas, melhorava o azedume da fruta. Mas era simplesmente saborosíssima para nós.
Quando ganhei meu primeiro vídeo-game, minha sala lotou de amigos querendo controlar o joystick e, por consequência, o bichinho do "come-come" como dizíamos, ou então o aviãozinho do River Raid, que explodia pontes, navios e helicópteros.
Mas, apesar disso, o esconde-esconde, a pelada na rua com traves feitas de chinelo e o jogo de taco (bet para alguns) não perdiam seus lugares na nossa agitadíssima agenda de criança, que ia para a escola de manhã (ou de tarde), estudava para não repetir de ano, coisa que infelizmente também ficou no passado, e brincava se relacionando com o mundo e não se escondendo atrás de um monitor e de nicks (apelidos) na internet, embora o que mais desejem, ainda hoje, seja serem encontrados.
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Canção popular refeita para os dias de hoje:
Espantei o tal do gato
Espantei o tal do gato-to
Mas o gato-to
Não correu-eu-eu
Dona Chica-ca
Admirou-se-se
Do pelo, do pelo
Que o gato tem
Uauuuuu!
*Fala sério... que graça isso tem? Rsrsrs
2 comentários:
Adorei essa crônica, Gu! Muito legal. Brinquei muito de Atari, adorava o come-come e este River Raid (eu era boa também!). Roubei muita amora do vizinho, brinquei demais na rua. Época excelente... Hoje qual criança a gente vê brincando na rua?
P.S. O Emerson Leite sabe ainda outra versão dessa música do Gato.
Um beijo
Gato Mia! Era demais.
Parabéns pelo textos. Já coloquei o link nos favoritos!
Abração.
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