segunda-feira, 27 de julho de 2009

O capeta em forma de guri na terra de Petronilha

"Eu tenho um amigo tão mentiroso... A maior mentira que ele já contou foi a da morte do cachorro dele. Ele disse que o cachorro morreu nos seus braços e antes de morrer latiu o seu nome: Carlos! e morreu. Essa foi a pior mentira que eu já ouvi."

Esse e tantos outros comentários fizeram o Teatro Polytheama derramar boas gargalhadas na noite do último sábado (25), no show de Danilo Gentili, que se não lotou as dependências do espaço, chegou perto da capacidade máxima de 1.200 pessoas.

"Vocês não sabem o que é trânsito. Vai lá pra São Paulo pra ver o que é congestionamento. Tem tanto engarrafamento que tem até uma rádio trânsito. 'E agora, os locais de congestionamento: São Paulo' (imitando o radialista)"

A performance de Danilo é boa, sabe muito bem estabelecer uma conversa quase informal entre o comediante e sua plateia, apelando para o "foda-se" em uma ocasião ou outra ao ver que os comentários não agradam e se permitindo usar e abusar de palavrões, como numa boa conversa entre amigos (homens) íntimos.

"Minha mãe queria muito uma menina, que se chamaria Daniela, mas eu frustrei os planos dela, embora tenha saído com essa voz. É um saco atender o telefone e ouvir a pessoa pensando que é minha mãe. Tem vez que acham que é minha tia. É engraçado porque um dia ligou lá em casa um amigo meu e foi logo berrando: e aí viado, tá cagando? Ele nunca ia pensar que era minha mãe ao telefone. E isso é raro de acontecer, porque sou eu quem atende, na maioria das vezes, e justamente nessa ocasião não foi eu, por que? Ué, porque eu tava cagando!"

Apesar de muito engraçado, houve pontos fracos no show, como a advertência feita por Danilo a uma fã que o filmava com o celular da primeira fileira de cadeiras. "Você sabia que não pode? Você já estava aqui quando foi falado isso? É que depois você põe isso no Youtube e me ferra". Um comentário que, embora tenha sido feito em tom de piada, acabou por inibir os demais espectadores. A noite podia ter passado sem essa advertência, afinal, que mal há em se divulgar no Youtube? Propaganda a mais para o próprio comediante, que, na minha opinião, não deve querer continuar com as mesmas piadas por toda uma eternidade, mas buscar a atualização constante.

"Outro dia minha mãe chegou em casa dizendo que havia comprado uma capa preta para pôr no sofá. Minha mãe acha que o sofá é o Batman. Aí ela pediu pra que eu colocasse a capa no sofá. Por que eu? Põe a senhora mesma. Ela virou pra mim e disse: você acha que se eu realmente soubesse encapar as coisas você estaria aqui agora?"

Outro fato lamentável foi a idiotice de um ou outro espectador, como o cidadão oculto na multidão que teimava em gritar: gostoso! vamos para a Praça das Rosas! No final, Danilo arrematou: você trabalha lá? Além disso, houve uma garota que berrou: namora comigo? ao ouvir Danilo dizer que estava solteiro. "Acende a luz, acende a luz", pediu Danilo. A moça então se levantou e confirmou o pedido. O comediante forçou a vista para enxergar melhor e aproveitou a deixa: "não não, era só uma piada."

Realmente, foi uma piada, aliás foram muitas piadas, contadas no melhor estilo Stand Up. O problema foi a duração de apenas uma hora. O público não acreditou quando Danilo anunciou o fim do show. A entrada, nada barata, deveria valer um segundo round. Fica aqui a sugestão.
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Foto: chupada da internet porque o Danilo fez o favor de inibir meu celular! rsrsrs

quarta-feira, 15 de julho de 2009

De médico a comediante passando por veterinário e jornalista... uffa, cansei!


É incrível como atualmente a maioria das pessoas que conheço tem me incentivado a tentar a carreira de humorista, mais especificamente no stand up comedy, gênero que consagrou humoristas como Chico Anisio e Jô Soares nas décadas de 60 e 70 e hoje ressurge (assim como o boom de revivals dos anos 80) com força total, bem representado pelos impagáveis repórteres (por que não? afinal, jogaram no lixo o diploma) do programa CQC (Custe o Que Custar) da Band.

Não vou mentir. Já pensei nisso, ainda mais porque ultimamente a carreira de jornalista não me deixa mais tão empolgado. Acho que desperdicei muita vontade em uma empresa que não me merecia. É... deve ser isso. Ou então concluirei que escolhi a profissão errada. Não, é melhor dar um tempo e pensar que escolhi apenas a empresa errada para um dia trabalhar.

Bom, o fato é que esse negócio de fazer humor já me acompanha há mais de 15 anos. Eu nem bem havia começado o ensino médio e já escutava amigos próximos me sugerindo: "Olha, se você não conseguir medicina, artes cênicas pode ser uma boa pra você!".

Sim, prestei vestibular pra medicina. E até entrei, mas numa universidade particular, cuja mensalidade em 1995 custava cerca de R$ 1,5 mil. Depois prestei medicina veterinária e também passei, em 1998. E dessa vez, não foi a falta de dinheiro que me impediu, pois consegui passar na Universidade Estadual de Londrina (UEL). O azar foi de não ter ficado sabendo da minha aprovação a tempo. Naquela época, a internet não era tão popular quanto hoje e eu só consegui ver a relação de aprovados por intermédio de um amigo meu que trabalhava em São Paulo e tinha acesso à rede.

Só que a informação chegou a duas horas do prazo limite para que eu estivesse em Londrina e firmasse a matrícula. Conclusão: no ano seguinte prestei somente jornalismo na Unesp, guiado pelo prazer que eu tinha de escrever, e passei.

Mas, voltando ao stand up comedy, vários foram os amigos que me deram essa dica. Até mesmo uma professora, que ministrou poucas aulas de criatividade no curso de pós-graduação que comecei em Campinas, em Jornalismo Literário, me incentivou dizendo que adoraria me ver no palco. "Se você resolver seguir meu conselho, me avise quando for estrear porque eu não perco uma peça sua". Dá pra acreditar?

Não sei se foi por todos esses incentivos, que eu, ao longo dos anos, comecei a ter vontade de procurar uma capacitação nessa área. Quem sabe uma hora dessas eu não me arrisco? Ah, esqueci de falar... almocei com uma turma de amigos nesta terça-feira e como sempre rimos da vida. Dentre os engraçadinhos, claro que estava eu. E há pouco li no blog de uma amiguíssima, a sugestão: "O time de jornalistas que estava reunido, representando casualmente os três jornais impressos da cidade, deveria ser um time de imitadores. Olha aí outro bom negócio. Nesta época em que a comédia stand up está bombando, e os jornalistas estão evaporando, eles se dariam bem."


É ou não é pra encanar com a ideia?


Beijos e abraços pra todos!

domingo, 5 de julho de 2009

Infância perdida

Sensacional jogo River Raid, do Atari. Eu era bom nisso!



Vivi a infância nos anos 80, época de ouro em termos de liberdade e criatividade para o mundo infantil. O Atari começava a deslumbrar minha geração com seus gráficos pouco arredondados, mas mesmo assim, criança ainda era criança, se comportava como criança e, principalmente, brincava com outras crianças.

Hoje, a preocupação é com a violência, não com a liberdade. É com o meio ambiente, não com o ser humano. Com o bom comportamento, não com a consciência e a sociabilidade. Tudo torna impossível uma criança viver amplamente sua infância, característica vital para o surgimento de adultos completos, sem frustrações.

Brincar na rua de hoje é um atentado ao bom censo dos pais. E brincar de polícia e ladrão então... virou até crime. Ah que saudade das armas de brinquedo que usávamos para disparar tiros de brincadeira contra nossos amigos, que rolavam no meio do mato, atrás de morros ou cupinzeiros para continuarem "vivos" na brincadeira. Fosse hoje, seríamos considerados marginais em treinamento para assaltar com armas de mentira.

E quem, nos anos 80, não roubou goiaba ou mexerica do pé da casa do vizinho? Em casa, a cesta podia estar cheia de goiabas grandes e vermelhinhas, ou de mexericas suculentas e docinhas, mas era a goiaba pequena, dura e bichada que mais enchia nossos olhos, ou a mexerica pequena e azeda. Lembro-me de uma noite fria de inverno em que eu e meus amigos nos fartamos de chupar mexericas roubadas. Nem o sal, trazido gentilmente por um de nossos colegas, melhorava o azedume da fruta. Mas era simplesmente saborosíssima para nós.

Quando ganhei meu primeiro vídeo-game, minha sala lotou de amigos querendo controlar o joystick e, por consequência, o bichinho do "come-come" como dizíamos, ou então o aviãozinho do River Raid, que explodia pontes, navios e helicópteros.

Mas, apesar disso, o esconde-esconde, a pelada na rua com traves feitas de chinelo e o jogo de taco (bet para alguns) não perdiam seus lugares na nossa agitadíssima agenda de criança, que ia para a escola de manhã (ou de tarde), estudava para não repetir de ano, coisa que infelizmente também ficou no passado, e brincava se relacionando com o mundo e não se escondendo atrás de um monitor e de nicks (apelidos) na internet, embora o que mais desejem, ainda hoje, seja serem encontrados.

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Canção popular refeita para os dias de hoje:


Espantei o tal do gato

Espantei o tal do gato-to
Mas o gato-to
Não correu-eu-eu
Dona Chica-ca
Admirou-se-se
Do pelo, do pelo
Que o gato tem
Uauuuuu!


*Fala sério... que graça isso tem? Rsrsrs

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Próxima...

Com quantos pensamentos se faz uma ideia? Quantos ATPs (grandeza que mede energia celular) valem uma resposta certa? Quantos newtons são necessários para se produzir a força de vontade suficiente pra me tirar dessa? Se o mundo é movido pelas perguntas, sou atualmente a pilha que faz a Terra girar em torno dela mesma. E de tanto girar em torno de minhas próprias dúvidas e ansiedades, já estou enjoado.
Por favor, TV não. Pelo menos não hoje. Como dizem os viciados: só por hoje vou ficar limpo. Chega de superficialidades, de entretenimento inútil e de intelectualidades factóides. Pra mim isso não serve. Pode servir para as apresentadoras burras que encontram em discussões banalizadas pela ação da mídia uma justificativa para o dedo indicador estacionado na fronte fazendo par com o polegar imóvel na sustentação do queixo.
Eu não. Eu quero mais que isso. Quero ver criatividade útil. E nessa entressafra que vivo, tenho procurado aproveitar meu tempo da forma como sonhei. Nutrindo-me de paz e amor e conhecimentos. É assim que, em breve, passarei à próxima fase. Aguardem!
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A queda do ditador

Horácio entrou no quarto escuro e antes que pudesse acender a luz foi agarrado inexplicavelmente. O braço que o laçara pela garganta era gigante. O laço feito entre o antebraço e o próprio bíceps era perfeito. Não haveria no mundo possibilidade de fuga. Horácio não tinha esperanças de reação. Não tinha nem mesmo vontade de reagir perante a escassez de ar que lhe atormentava a traquéia.

O braço insistia em lhe fazer refém, embora o pobre homem não adivinhasse o porquê daquela agressão estúpida e sem sentido da qual se via vítima. Seria um de seus subordinados no serviço militar? Aqueles que Horácio havia humilhado de forma implacável no dia de apresentação?

Horácio era oficial do exército. Havia seguido a carreira que mais dava gosto ao pai, apesar deste nunca ter chegado a ver a farda do filho. O fato era que há 10 anos ele tinha o gosto de ser apresentado aos recrutas como o grande comandante. Cheio de medalhas e honras ao mérito, as quais fazia questão de carregar no peito.

Ele, em atitudes visivelmente paternas, demonstrava ao pelotão toda a supremacia que, a exemplo de seu pai, insistia em ter. Não havia recruta que não suspendesse a respiração enquanto ele se ocupava em ordenar seu contingente.

Agora pensando com os últimos segundos de ar que ainda lhe restavam, chegava à conclusão que tinha passado dos limites com a última turma. Havia exigido que fizessem exercícios físicos até a exaustão ou, como ele mesmo berrou, até que vomitassem.

Mas qual deles seria o seu carrasco naquele momento? Um braço forte. Era apenas essa a informação que seu algoz permitia que tivesse antes de sucumbir. Seria isso? Após tantas ordens e tanta imponência, haveria de acabar daquele jeito? Uma gravata perfeita e sem possibilidade de fuga? Mais do que uma derrota humilhante, aquela seria sua última derrota.

Ao arregalar os olhos na tentativa desesperada de buscar ar no infinito, Horácio pensou na família e, apesar de nunca haver dado muita importância à mulher e aos filhos, desejou, dentre as últimas pulsadas da veia, no alto de sua testa, a oportunidade de estar junto ao filho, o qual ele amava muito, embora não tivesse gosto e até implicasse com a profissão de bailarino do rapaz.

Desejou estar ao menos mais uma vez com a esposa, outra vítima da violência e do desamor de Horácio. Mesmo assim, pediu a Deus naquele instante, mesmo não acreditando em sua intervenção. Suplicou que lhe desse apenas mais um segundo. O segundo necessário para gritar que se arrependia do pequeno ser que havia sido até então.

O ar voltou a ventilar o pulmão de Horácio e este ressuscitou quando o braço afrouxou e os gritos ecoaram no instante em que as luzes foram acesas e as bexigas, junto aos inúmeros convidados, apareceram por todo o quarto. "Feliz aniversário, Horácio!"

G.B. - 2005