segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Eis-me em poucas palavras

Eu rio sozinho.
Faço piada com o acaso.
Ouço música alternativa.
Passo horas pensando no futuro.
Dias no passado.
Eu conserto coisas relevantes.
Faço mímica para explicar a alguém.
Cozinho para mim.
Almoço com a minha cachorra.
Toco guitarra pra uma plateia invisível.
Tenho sonhos perturbadores.
Recebo convites inesperados.
Trabalho em casa.
Mando torpedos para amigos.
Evito recair na estupidez.
Não gosto de romã.
Nem de chuva que traz lama.
Estudo o contexto.
Interpreto minha felicidade.
Amo pessoas.
Acaricio quem merece.
Abraço quem se dá a isso.
Arrependo-me por não acolher mais.
Invento histórias.
Relembro a infância.
Adoro cheiro de mulher.
Leio olhos que dizem.
Beijo mais do que o possível.
Como fast food.
Bebo Coca-Cola.
Prefiro Guaraná Antarctica.
Sou apaixonado por suco de maracujá.
Aprendi a tomar o de goiaba.
Durmo o que a consciência permite.
Assisto a trivialidades.
Tenho minhas árvores preferidas.
Meus lugares também.
Estresso-me no trânsito.
Gosto de frio.
Busco justiça.
Eis um pouco de mim.
Simples e complexo.
Como qualquer ser na humanidade que lhe contém.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Quando as manias se revelam

Eu tenho manias.
E quem não as tem?
Tenho uma que é fazer paródias de músicas que estão irritantemente sendo tocadas nos meios de comunicação de massa. Aliás, odeio meios de comunicação de massa, assim como essas músicas.
Mas o fato é que não há como ficar imune a eles.
E de tanto ouvir mesmo que sem querer uma dessas músicas, a gente acaba incorporando-as na cabeça.
Pra escapar disso, tenho a mania de exorcizá-las criando paródias com suas melodias.
Não sei se tem algo a ver, mas o engraçado é que toda paródia que faço, ali de improviso, eu sempre começo com a palavra "quando".
Mas o que isso tem de especial?`
Pra mim, não passa de uma falta de criatividade e uma palavra chave que me abre caminho para outras.
Mas pra minha psicóloga... ah eu tenho certeza que pra ela essa palavra tem um outro significado.
"Quando é o que ainda não veio, mas pode vir, ou você acredita que venha", dirá ela sem pudor algum de me pôr na parede.
"Mas o quê será que eu devo estar esperando?", direi eu com cara de bobo, apesar de saber a resposta.
"O que você espera que aconteça?", indagará ela com um sorriso no canto dos olhos, como se não quisesse me inquirir, embora já o estivesse fazendo.
"Não sei, juro que não sei... um filho?", arriscarei como quem lança mão do óbvio para tentar pôr a peneira onde sabe que não deve.
"E quando virá esse filho? E o pai? Será que vem junto?", satirizará a conversa procurando me fazer confessar.
"O problema não é o pai...", desabafarei com os olhos marejados e pronto pra acabar a sessão.
No carro, ao invés de ligar a frequência modulada para cantar o quando, eu ouvirei Los Hermanos, ligarei a seta e arrancarei a favor do vento cantando:
"Veja você... onde é que o barco foi desaguar
A gente só queria um amor
Deus parece às vezes se esquecer
Ai, não fala isso por favor...
Esse é so o começo do fim da nossa vida
Deixa chegar o sonho
Prepara uma avenida
Que a gente vai passar..."

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Los Hermanos - Conversa de Botas Batidas

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Terminou a m... do horário de verão!

O Operador Nacional do Sistema informa: acabou a M***** do horário de verão!
Acerte seu relógio de pulso e o seu relógio biológico.
No período em que ficou vigente, estima-se que houve uma economia de R$ 30 milhões.
Ou seja, graças ao nosso sacrifício, o país economizou R$ 30 milhões.
Bom... se dividirmos o montante por 190 milhões, 732 mil, 694 pessoas, que é a atual população brasileira, segundo o último censo do IBGE (2010), todo esse esforço não renderá mais que R$ 0,15 por brasileiro.
Assim sendo... tenho uma sugestão para o próximo horário de verão: ao invés de arrebentarmos nosso organismo levantando uma hora mais cedo, cada brasileiro se comprometerá a reduzir R$ 0,20 de sua conta de energia. Dessa forma, basta cada brasileiro reduzir R$ 0,05 por mês (quatro meses de horário de verão), que nada mais é que deixar uma lâmpada de 60w, que normalmente ficaria acesa, desligada por 12 horas a mais que o normal ao longo de um mês, para gerarmos uma economia de mais de R$ 38 milhões, e o que é melhor, uma economia para nós mesmos e não para o Operador do Sistema...
O que acham? Loucura? Ou racionalidade? Nossos governantes não resolvem o problema porque não têm vontade. E porque é mais fácil fazer o boia-fria, o vigia, o pedreiro, o trocador de ônibus, o ajudante geral, o açougueiro e todos aqueles que necessitam acordar cedo, sofrer por quatro meses. E o povo sofre. E sofre calado, o que é mais triste de se ver! 

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Orquestra emocional

O coração não é o que mais sofre. Ele pode até levar a fama, mas todos se esquecem dos coadjuvantes. O que dizer dos dedos, que se retorcem e se estralam e se arrebentam numa sangria desatada de materializar a angústia? O coração acelera e são os dedos que aguentam o tranco. Lutam uns com os outros para saciar a loucura sem ter que ficar louco.
O pulmão é outra vítima renegada a segundo plano. O coração palpita, enche a corrente sanguínea de adrenalina e é o pulmão quem tem que assoprar depois da porrada hormonal que sofremos. Abre e fecha, ar e gás carbônico, e assim prossegue a vida, como uma caixinha encolhida, que ora se solta e relaxa, ora se prende e contrai, como num ataque-defesa. E é o pulmão quem deve trazer o alívio para as horas mais quentes.
Os dentes... esses já têm destaque há algum tempo, nem sei se vale a pena narrá-los, mas como loucos que são, trincariam-se caso não entrassem na história. Do mesmo jeito, batem-se e debatem-se e rangem-se desesperadamente. São como os dedos: passionais demais... e influenciáveis. Tudo é violência para eles. Bastou o coração disparar a ordem para eles logo aterrorizarem ainda mais a cena.
Já as pupilas são um espetáculo à parte. Têm o poder de metamorfozearem-se, dilatando-se ou comprimindo-se, às vezes banhando-se e avermelhando-se. São trágicas. Aliás, as mais trágicas. Encenam bem a verdade, embora possam dar-se também à falsidade. Pudera, a vista que lhes é concedida, capaz de comover até órgãos escondidos como o coração, é de arrasar. São as meninas dos olhos, mas tem muito menino que chora também.
E essa orquestra, que bem poderíamos ficar horas completas descrevendo, com mais e mais coadjuvantes-protagonistas, funciona para comover a boca. Para dar aquele empurrãozinho e a fazer falar ou para fazê-la calar dependendo da ocasião. O fato é que quando você se aproxima, todos sabem o que fazer para prolongar o ato: tornar inesquecível o momento frente a sua presença.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Modernidades e contemporaneidades

Porque Deus fez assim é que o mundo é assim.
E por que Deus não escolheu outro layout, pai?
Que layout, moleque?
Esse céu azul, com nuvens brancas, montanhas verdes e sol amarelo...
Isso não é layout... isso é a natureza.
É... na sua época vocês falavam natureza. Pra gente é o layout da página, tá ligado?
Ok.
Ok significa que você tá ligado?
Sim.
O que significa sim?
Puta merda, moleque! Você fala português ou não?
Pô, até falo essa coisa aí, mas é mó loko não falar e mandar um papo mais às pampa, né não, véi?
Ô Judite... olha esse seu filho com apenas 10 anos de idade falando como um marginal... é melhor você pô-lo de castigo sem ver televisão.
Ih demorô, mano... nem tô a fim de ver televisão... vou ficar no msn
Agenor, estou regando a jardineira... o que você queria que me chamou?
Jardineira? Pô Judite... tem que se atualizar, se não o Agenorzinho te dá a volta fácil fácil.
Ele que espere pra ver...