domingo, 28 de abril de 2013

Vencido

A vida não tem-me sido razoável, compreensível comigo. Tem sim, oposto barreiras em minha caminhada, que parecem intransponíveis em certos momentos, mas que com uma esticadinha de perna, um pouquinho mais audaciosa do que as anteriores, tenho conseguido superá-las. Até quando? Nunca saberei. Aliás, esse nunca saber é o que mais dói, o que mais aperta o peito à noite, e dá força para a minha insônia. Meu travesseiro é testemunha das vezes que travei com ele combates intermináveis durante a madrugada para, no fim, vencer a luta por poucos pontos. Luta difícil essa. E angustiante.
São nessas horas que a vontade de sumir dá o ar de sua (des)graça. Fazer mais o quê? Lutar mais quanto? Com que mais força? Para chegar a lugar algum? É, eu sei que não é bonito dar-se por vencido, chegar à conclusão que sou fraco perante os obstáculos. Bonito é bater no peito e gritar fé em Deus e dizer que está tudo bem, que tudo vai dar certo no final. A internet está cheia disso. Vivo, aliás, em um país de corajosos, obstinados pelo êxito, e vencedores, ou na melhor das hipóteses, futuros vencedores. Chego a achar graça de tanta hipocrisia. Ninguém nunca perde nesse país. Só não sei onde estão os derrotados, já que temos tantos vencedores.
Pois bem, eis-me aqui... eu sou um derrotado. Amanhã posso vir a vencer novamente, como já o fiz há tempos, mas hoje estou no fundo do poço, na pernada que ficou faltando para a linha de chegada. É hora de fazer uma pausa para recuperar a força perdida, de enxugar a lágrima e o suor, de voltar a vislumbrar a luz. É duro. Chega a ser impossível recomeçar a caminhada, mas eu sei que vou voltar, quem sabe amanhã mesmo, a caminhar de novo, mesmo sem querer, e por um único motivo: ainda estou vivo. E enquanto houver respiração haverá o que se seguir, por menor que possa parecer o passo, ainda que seja pra trás, ainda que apenas um esboço, caminharei.
É preciso voltar a sonhar, é preciso fruir que o mundo é feito de inimizades, ou de amizades que interessam, é preciso entender, de uma vez por todas, que não se deve esperar nada de ninguém, nem de quem lhe trouxe ao mundo - isso talvez já seja o máximo que terá deles -, é necessário viver segundo por segundo, dia por dia sem esperar nada do universo também. Enfim, contentar-se com o nada para festejar o pouco de amanhã é uma atitude inteligente, não pessimista como muitos nomeiam.
Tenho certeza que tudo é aprendizado, tenho certeza que nada é certeza, mas lições de casa que você faz ou não faz, e fazendo você aprende, e aprendendo você evolui, e a evolução te leva para perto do amor, que te conforta e te recompensa. A vida não tem-me sido razoável, como disse acima, mas a cada queda, embora esteja mais difícil me levantar, tenho me machucado menos.