- Nossa, cara! Quê é isso? Uma cama de cimento?
Sim, estávamos diante de um novo quarto. Maior e aparentemente melhor que o primeiro. Aparentemente, pois o cheiro de mofo continuava intenso. A diferença era que, dessa vez, a cama estava feita (e possuía um colchão grosso) e, em cima dela, dois cobertores dobrados à moda de hotéis cinco estrelas, assim como as toalhas de banho se encontravam devidamente embaladas em sacos plásticos.
Ao lado direito da cama havia uma porta que, teoricamente, era a do banheiro.
- Cara, que banheiro sinistro! Exclamou Drovetto antes que eu pudesse verificar com os meus próprios olhos.
Um vaso sanitário encardido, amarelado pelo tempo, um chuveiro igual a qualquer um, exceto pelo fato do mesmo não sair água e uma janela que dava para lugar algum. Era a janela mais horrível que já havia visto. Pequena e inútil. Escura. Você abria e tinha a sensação de que dela sairiam milhões de morcegos e olhinhos daqueles que aparecem nos desenhos animados.
Após constatarmos que continuaríamos sem poder usar um banheiro decente para as nossas mais básicas necessidades fisiológicas, decidimos, pelo menos, combater aquele cheiro de mofo insuportável, comprando um circulador de ar.
- Cara, inclui na lista um lençol também porque esse aqui... dá só uma cheirada.
Não foi preciso uma grande aproximação do lençol para sentir o cheiro de anos de trabalho de prostitutas em cima daquela cama. Então, não nos restou escolha, lá fomos eu e o Drovetto, às compras emergenciais no centro de Mogi das Cruzes.
Nas Pernambucanas (todo canto desse mundo deve ter uma), fomos direto ao andar de cima, que é onde ficam as roupas de cama. E adivinha se aquela escadinha rolante no canto direito da loja não estava lá. É impressionante... as Casas Pernambucanas são igual a Mc Donald´s, existe em todo lugar e quase sempre com as mesmas características.
Ao subirmos na escada fiz a piada mais certeira da minha vida.
- Drovetto, torce para ninguém mais subir na escada até que estejamos lá em cima, porque essas escadas rolantes da Pernambucanas é assim: só aguenta dois, se subir um terceiro ela para.
De repente a escada para. Rapidamente, olhamos para baixo e vimos um cidadão que acabava de pisar no primeiro degrau da escada.
Gargalhadas à parte, compramos um lençol e um circulador de ar, quer dizer, eu comprei. Hoje, cheio de histórias, o circulador refresca minha casa.
De volta ao Mumu, outro problema: em que tomada ligar o circulador de ar? Não, não havia tomada alguma no quarto. O jeito foi pegar uma carona no quarto ao lado, mesmo a contragosto do portuga, que dizia para não incomodarmos o hóspede.
- O senhor cala a boca senão sustamos os cheques. Já se esqueceu? Ameaçávamos.
Graças ao bom Deus, o carinha do quarto ao lado cedeu-nos a tomada por toda a segunda noite. O fio, lógico, não deu e tivemos que comprar também uma extensão, que ficou atravessando o corredor da espelunca a noite toda.
- Alguém pode nos acordar amanhã cedo? Temos prova às 8 da manhã e precisamos acordar umas seis e meia no máximo, para nos arrumarmos e irmos a pé.
Acordo fechado, hora de ir para a cama. Outro problema: cama de casal.
- Olha, o melhor é dormimos invertidos. Sugeriu Drovetto.
- Melhor não. Já pensou acordar com o dedão do meu pé na sua boca? Retruquei.
- Então vamos dormir certo e fazemos um pacto: a gente só sorme em duas posições, ou de barriga para cima ou do lado oposto ao do outro. Nunca virado para o lado em que o outro se encontra.
- Pra mim está ótimo. Exclamei.
Toc-toc-toc, acorda!
O tiozinho da recepção socava a porta para nos acordar. Abri o olho e dei de cara com o Drovetto virado justamente do meu lado. Um soco no estômago foi o suficiente para puni-lo pela quebra do pacto. Lavamos a cara, tomamos um desjejum miserável oferecido pelo restaurante do portuga do outro lado da rua e fomos correndo para a UMC.
Não percam, a última parte
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Foto: o novo quarto do Mumu, aparentemente melhor, mas sem nenhum item de série. Observe, do lado direito, utilizamos os cobertores e lençóis nojentos para vedar o vão da porta do banheiro. Ao centro, meu circulador de ar. Na cama, um lençol novinho e gostosinho. Enfim, tínhamos nossa tão esperada noite de sono desde que chegaramos.
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