quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Minha BMX

A viagem era longa, feita em pouco mais de uma hora, a bordo de um fusquinha verde e socado de gente e bugigangas mil. Eu pouco me importava, afinal, dentre as tralhas, levava comigo minha querida bicicleta BMX-Pantera (Monark), azul, nº 35, apesar de meu avô não ter gostado da ideia de carregar tanto peso em seu carro.
Os anos 80 eram assim. Não pensávamos muito pra fazer o que queríamos, simplesmente fazíamos e pronto. Foi assim que, alguns dias depois do dia 5 de abril de 1982, resolvemos visitar minha tia que acabara de dar à luz ao meu primo Leonardo. Residia no alto da Lapa e então enchemos o carro de meu avô, eu, minha mãe e minha avó e lá fomos Anhanguera adentro, em pouco mais de 80 km/h.
O rádio tocava o som do momento: "Você não soube me amar", da Blitz, e a molecadinha de pouco mais de 5 anos, cantava empolgada o refrão enquanto lavavam suas magrelas na rua sem saída da Lapa, rua em que minha tia morava. Desci minha bicicleta e logo me entrosei. Uau... você tem uma BMX! Exclamaram os moleques. Sim, eu tinha o sonho de consumo da galerinha, embora alguns deles também tivessem. E assim a amizade acontecia, mesmo estando ali pela primeira vez, sem saber o nome de ninguém. Nos poucos dias que ficamos hospedados na casa de minha tia, fiz amizades, colegas e até inimigos por conta de duas menininhas que acabaram se encantando com meu cabelo tigela (mais uma moda dos anos 80 entre os meninos). Por causa de uns beijinhos que me foram ofertados por elas, fui socado por seus irmãos ciumentos... enfim, esses eram os anos 80, época em que ficar na rua até tarde da noite e conversar com estranhos fazia parte do processo de crescimento pessoal... quantas saudades... se eu fechar os olhos ainda posso ver a pequena rua sem saída, o fusquinha verde do meu avô e minha BMX-Pantera nº 35.
Abril de 1982: eu e minha BMX na Lapa/SP

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