segunda-feira, 19 de março de 2012

Imagem é tudo!

Sentado à espera de um amigo que chegaria a alguns instantes na rodoviária de Bauru. Um mendigo se aproxima. Finjo que não o vejo, a exemplo de todos os demais que já haviam recebido sua visita há instantes.
- Psiu - chama o mendigo.
Faço-me de morto. Não adianta.
- Psiu - insiste a figura subumana.
Viro a cabeça muito a contragosto, querendo acreditar que ele me pedirá as horas. Ilusão.
- Pois não?
O homem me olha. Sequer balbucia palavra. Ao invés disso, esfrega o indicador no dedo polegar direito, fazendo o sinal internacional de dinheiro. É incrível como algumas coisas não mudam em lugar algum do mundo. Naquele instante, todos que observavam a cena e que, possivelmente, seriam as próximas vítimas do mendigo, se levantam e se retiram, evitando o futuro constrangimento.
- Fala! - exijo. Ah, só me faltava essa, penso. Ser compelido a dar dinheiro por mímica. O mínimo que ele vai ter que fazer é pedir.
Nada. O homem continua a esfregar os dedos e a demonstrar, à medida em que não dou o dinheiro, certa impaciência, como se eu o estivesse atrapalhando em sua tarefa diária.
- O que o senhor quer? - insisto.
O esfrega-esfrega intensifica. Reparo um arroz grudado no beiço do sujeito. Putz, que nojo!
- O senhor quer dinheiro?
- É... - responde insatisfeito e com força insuficiente para terminar a sílaba.
- Não tenho.
O mendigo continua em pé. Insiste nos dedos, auxiliados agora com as "pestanas" que vão de cima a baixo como quem diz: escorrega essa grana do seu bolso pro meu.
- Vou dar um conselho pro senhor... tira esse arroz do beiço antes de pedir alguma coisa.
Ele para os dedos. Fita-me dos pés à cabeça.
- Sério, tio! O senhor tá feio na fita com esse arroz na boca. Ou o senhor engole esse arroz ou cospe. Desse jeito, ninguém vai querer papo com o senhor, vai por mim!
O homem descola o grão do beiço com os dedos imundos, olha-o e, sem pensar duas vezes, manda para a garganta o pequeno cereal, voltando a esfregar os dedos e a arquear as sobrancelhas em minha direção.
- Ah, agora tá melhor! Aposto que ninguém tinha dado nada pro senhor até agora, tinha?
O mendigo confirma que não com a cabeça.
- Tá vendo? Aposto que as pessoas vão olhar pro senhor com uma cara bem melhor, daqui por diante. E, com certeza, as gorjetas vão melhorar!
Observo meu amigo descendo do ônibus, ao passo em que o mendigo volta a esfregar os dedos esperando um troco.
- Mas eu não tenho nada mesmo! Boa sorte! Tchau!

2 comentários:

Jana disse...

Que legal!!!
Agora não to lembrada... é verídico? kkkkkk

bjs

Unknown disse...

pura realidade