quarta-feira, 20 de maio de 2009

Esmola vicia

A cara de pau da pessoa que pede em semáforo, para mim, é quase a mesma de políticos corruptos. A diferença é só a proporção e a arrogância.


Ultimamente, Jundiaí virou a verdadeira "terra das oportunidades". Oportunidades para vagabundos isso sim.


Não me venham os falsos moralistas falar em solidariedade ou os cristãos mais fervorosos (cuidado, pois a distância para um falso moralista é muito pequena) falar em amor ao próximo.


Não há porque, não razão, não há situação que obrigue uma pessoa a exercer a mendicância. Isso é da natureza de cada um. E o pior é que toda vez que paramos num semáforo, a cena nos leva a refletir e nos constrange, sem motivo para ser assim.


Há algum tempo ouvia-se falar muito no "fruto da sociedade", ou seja, as pessoas marginalizadas seriam fruto de uma sociedade mesquinha e exclusiva, em resumo, vítimas do sistema.


Eu penso diferente. É claro que vivemos numa sociedade mesquinha e que faz de tudo para excluir as pessoas, mas prefiro acreditar bem mais na teoria de Darwin, que diz que os mais fracos são naturalmente excluídos. E disso, ninguém pode se envergonhar. A natureza é assim ou você encontra um cachorro dividindo seu alimento com outro?


É óbvio que nossa inteligência, que não veio só, mas acompanhada de senso de caridade, nos impede de agirmos como animais (embora eu tenha visto muitos animais andando e falando por aí), mas é bom pararmos de taxar os menos favorecidos que estão nos semáforos, de coitados.


Ninguém é coitado. Só quem quer. E aqueles que querem, para mim, só merecem nossa indiferença. Ah não, chega disso, de olhar, ficar com dó e alimentar o vício da esmola, que deve ser tão ruim quanto os demais.


É por isso que quando eu paro no semáforo, por mais que minha parte emocional queira estender algumas moedas, prefiro deixar minha porção mais nobre tratar-lhes como cidadão e não financiar seu fracasso. O fracasso de não agir contra sua condição.

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