quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O bom e velho "Paz e Amor"

Revirando o baú (má oiiii), quer dizer, os meus arquivos esquecidos nos kbytes além da imaginação do meu processador Pentium, encontrei uma série de contos que escrevi durante os anos de faculdade de jornalismo em Bauru (a gente ainda falava em fita cassete, dá pra acreditar?). É estranho relê-los hoje, pois é um tanto imaturo ainda a forma como eu os escrevi, tanto na forma como no conteúdo, mas a ideia até que não era das piores. Eles foram publicados em um antigo sites de textos literários chamado Alessio´s Freak, de propriedade de um colega de classe de mesmo nome. Bom, resolvi tirar alguns deles do armário, que dizer, do diretório esquecido e republicá-los aqui. Espero que não odeiem muito...

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O bom e velho "Paz e Amor"

O calor não dá trégua. Há duas semanas que eu não consigo sair de casa à tarde por causa do sol. A temperatura deve estar beirando os quarenta, como exclama o embebecido locutor de amplitude modulada.


Grita, exclama, pede providências, culpa o governo, pede justiça e, em alguns momentos, chega a fazer apologia à justiça-com-as-próprias-mãos. Mas em meio a isso tudo, ele bem que acabou me dando a desculpa que eu precisava pra não ficar em casa esta noite: o filme Matrix. Ouvi boas recomendações, então vamos lá!
Dessa vez eu não corro o risco de ficar no chão. Hoje é o último dia de exibição, então chego pontualmente às dez. Mas este cinema deve estar de marcação comigo, agora ele me inventa de adiantar a sessão. Bem, como esta é a última sessão, o único jeito é entrar e deixar pra lá os cinco minutos iniciais do filme.

Consigo um lugar na última fileira. Estranho, estou sentindo falta de alguma coisa, já sei... minha pipoca! Prefiro ficar sem do que perder mais alguns minutos! Ops... meu remédio, era isso que estava faltando... se eu não tomo enxergo tudo sem cor, sem vida...

Pô, mas por que estão querendo pegar este cara? E essa moça? Como ela consegue fazer essas coisas?Putz, vai ficar muito difícil entender o filme...

- “It’s easy if you try...”

– Perdão, o que o senhor diss... Lennon?

– Então você perdeu o começo do filme?

– Você está vivo?

– É claro que sim. Ou você conversa com fantasmas?

– Mas, todos acham que você morreu baleado por aquele tiozinho fanático!

– Ah, nem me lembre disso! Esse tiozinho era um brincalhão! Ele atirou dardos com sonífero. Eu caí e adormeci. O tiozinho que prenderam era um outro que eu nunca vi mais gordo, mas você já viu... a polícia tinha que arrumar algum culpado e dar satisfações ao Estado e aos milhares de fãs...

– Mas então tudo aquilo não passou de uma fraude?

– Você quer saber a real mesmo? Eles fizeram comigo o mesmo que fizeram com Kennedy!

– E o que fizeram com Kennedy?

– Isso não importa agora. Você não quer entender o filme?

– Mas eu não estou conseguindo entender...

– OK, “imagine there’s no haven, there’s no hell bellow us... Imagine all the people living your lifes in peace...”

– Estou falando da sua morte, aliás, sua falsa morte.

– Olha aqui, se você não acredita em mim, tudo bem, mas me deixa assistir a esse filme! Você não percebeu que eu cantava a essência desse filme já nos anos 70? É uma realização pra mim!

– Puxa! É mesmo! Mas eu gostaria de tirar algumas dúvidas com você, porque isso não pode ficar assim John...

– Xiiiii... fica quieto cara!

– Custa você responder uma pergunta pra mim? Só uma Lennon. Meu, encontrar você num cinema não acontece todo dia... e também é uma realização pra mim...

– Ok, “you say hi, I say hello, you say why and I say I – DON’T - KNOW!”

– Por favor Lennon, me diz o que fizeram com você e com Kennedy.

– Nos fizeram conhecer Forest Gump, aquele idiota!

- Fala sério...

- Olha essa cena...

Na tela, Neil escolhia entre as duas pílulas. Na poltrona, agora vazia, de John Lennon, um bilhete com apenas uma frase: “All you need is love!”.
Compreendi naquele instante o que Lennon queria: viver em sua eterna filosofia de vida e mais nada, quer dizer, queria se ver livre de mim também. O filme? Ah, esse filme eu já vi. Depois pego em fita pra ver desde o começo.

2 comentários:

Rafael disse...

E aí, mano, blz! Nunca mais lembrei desse seu texto, mas conforme foi anunciando, não teve erro! A foto também ajudou.

Muito engraçado! Dificilmente o Lennon citaria "Hello Goodbye", do amigo Macca, já que dificilmente gostava das composições do parceiro. Mas para o enredo caiu como uma luva.

Abraço,

Gustavo disse...

Ok, você venceu mano... o cara nunca citaria uma letra do amigo Macca, mas acho que a passagem dessa pra uma melhor, sendo esta uma fraude deve ter mexido com a cabeça dele... vai saber... um cara que podia ter a mulher que quisesse ter ficado com uma japinha feia como a Ioko... é capaz de qq coisa, né?
E outra, não sei porque ele citou a canção de McCartney, só sei que citou... verdade!