segunda-feira, 8 de março de 2010

Tempo, tempo, tempo, mano velho...

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,

Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

(Gregório de Matos)


A verdade é relativa, disso eu sei. Mas e a relatividade? Essa será verdadeira? O papo é meio louco, eu sei, mas às vezes, e só às vezes mesmo, fico pensando se o tempo que passa hoje servirá como referência para o que há de passar amanhã.

Descobri no final da semana passada, que não gosto de sentir a presença do passado. É verdade, não me cai bem no estômago sentir-me em contato com o que já se foi. E isso não quer dizer que eu não goste de relembrar fatos e rever fotos, aliás, faço isso tão bem quanto a memória e o tempo me permitem. O que eu, de fato, não suporto é sentir que onde havia vida e alegria, hoje só se pode sentir o cheiro da saudade, a triste visão do 'naquela época', uma espécie de fantasma que costuma assombrar a casa de minha avó, onde morei desde meu nascimento até meus 27 anos, onde por mais que tenha tido uma infância razoavelmente feliz, nunca me senti em casa.

Em alguns domingos, quando a patota de tias e primos resolvem se juntar na casa da vó, que já deixou a realidade contemporânea para viver aquela uma remota, na qual os filhos ainda são pequenos e o marido ainda chega do trabalho ao meio-dia para almoçar, a sensação de passado me bate violentamente. E eu apanho mais que qualquer um, mais que qualquer primo ou mesmo qualquer tio, os quais embora tenham crescido ali, não têm sequer a décima parte do total de lembranças de alegrias e sofrimentos que eu tenho, e que ainda hoje, se acumulam latente em minha memória.

Em cada cantinho daquela casa há uma história minha, e em cada metro das calçadas daquela rua, há uma aventura e uma dor vivida, e em cada esquina daquele bairro, há uma desaventurança e um brilho nos olhos. Como é triste sentir que a história daquele lugar já foi escrita e que, a partir de agora, caso venham outras histórias não serão senão histórias de outras pessoas, outras circunstâncias, outros fôlegos e outros sopros de vida!

Um comentário:

Unknown disse...

Belo texto. Bela reflexão, menino! Esse tempo, um mano velho...
Beijos