
De supetão pedi para que o motorista parasse o carro. Entrei no posto e, como só havia um senhor na sal de espera, fui prontamente atendido pela recepcionista.
- É só aguardar que a enfermeira já vai te chamar.
Sentei-me ao lado do senhor, que parecia em estado de transe, hipnótico, olhando para o nada, com a boca aberta, quase babando.
- Psiu... psiu... ô... ô...
O velho reagia para a vida e começava naquele instante um processo de comunicação angustiante comigo. Justo eu, que estava morrendo de pressa para ir embora.
- Ô...
- Que é?
- Que d... é ho...?
- O que?
- Que d... é ho...?
- Desculpa, mas eu não estou te entendendo...
- QUE D... É HOOOO!!!! Gritou com as mesmas sílabas falhas e pouco pronunciadas.
- Que dia é hoje?
- É! relaxou.
- Hoje é quarta.
- É feriad...?
- Não. O feriado foi semana passada.
- Ahn...
Onde é que se enfiou essa enfermeira? Por que não me chama logo? Putz... esse velho vai falar comigo de no...
- Ô... ô...
Putz, que merda, eu sabia!
- Ô... ô...
- Que foi? Respondi com desânimo.
- Cê que...ia...cê...uié?
- O que?
- Cê que...ia...cê...uié?
- Eu o quê?
- CÊ QUE...IA...CÊ...UIÉ?
Não é possível que ele esteja me perguntando isso! Pensei.
- Desculpa senhor, mas eu não entendo o que o senhor está perguntando! (portanto, por favor, me ignore enquanto eu estiver aqui, sim? Mentalizei)
- Cê que...ia...cê...uié?
- Se eu queria ser mulher?
- É...
Olhei para o teto, olhei para o ambulatório, olhei para o relógio... Mas que porra essa enfermeira tanto faz que não me chama? Só tem eu nesse lugar! E esse velho louco do meu lado, que ainda por cima deve ser tarado. Concluí.
- Não. Não queria. (Mas queria que o senhor calasse sua boca frouxa! rsrs)
- Eu que...ia.
- O senhor queria?
- Que...ia.
Agora era eu quem ficava curioso pra continuar a esdrúxula conversa.
- Por que?
- Puque...sô...mu...capi...oso.
- Por que o quê?
- Puque...sô...mu...capi...oso.
- Porque o senhor é muito caprichoso?
- É...
- E só por isso o senhor queria ser mulher?
- É...
- Então tá...
Carlos Gustavo.... Chamou a dita cuja enfermeira.
Trinta segundos depois eu saía da sala e passando pelo velho que ainda permanecia na tal sala de espera, percebi que um outro rapaz fazia companhia pra ele.
Já na porta, ouvi:
- Ô... ô... cê...que...ia...cê...uié?
Um comentário:
KKKKKKKKKKKK... Que engraçado!
Coitado do tal velhinho que andou frustado porque queria ser mulher e não homem.
Agora, o tal argumento foi o melhor: "Puque...sô...mu...capi...oso."
Só mulheres são caprichosas?rsrsrs..
Conclusão: na certa ele notou você "no maior capricho" por ali, jornalista, coisa e tal, e, concluiu - já que ele também é(era) caprichoso e queria ser mulher, nao custava nada perguntar pra você também ne?! Tão normal isso owwww.... rsrsrs
Beijo
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