Abaixo, um conto que fiz há algum tempo para um concurso.
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Inseparáveis
− Poquinho pa mim, poquinho pu cê. Mais poquinho pa mim, mais poquinho pu cê!
Aos gritinhos, que intercalavam o diálogo, Mariazinha passava a manhã. Com as perninhas de fora, expostas ao sol agradável de antes das dez, ela carregava com as duas mãozinhas o copo de plástico cor de laranja. A mãe, de longe, observava a conversa da pequena criaturinha com o também pequeno brotinho de pinheiro enterrado na beirada do jardinzinho, que ficava aos pés do xodó da casa.
− Com quem você tá falando, Mimizinha?
O olhão arregalado volta-se em direção à voz materna.
− Com quem cê tá falando, Mimi? Conta pra mamãe, conta.
Mariazinha pisca os olhos, abre a boca e balbucia um pequeno ponto de interrogação, como se aguardasse que a questão fosse melhor formulada. Sem complemento, volta-se para o seu afazer. Leva à boca o copinho todo babado, degusta novamente o suquinho nutritivo e derruba propositadamente o restinho do líquido sobre os folículos do amiguinho verde.
A séria brincadeira é interrompida uma vez mais pela voz adulta.
− Mimizinha... Mimizi-nha... Cadê a Mimizinha?
Dessa vez não. Mariazinha tinha sérias pretensões de continuar alimentando o brotinho. Não iria, de forma alguma, deixar que as perguntas bobas da mamãe lhe tirassem a concentração.
A palminha da mão branquinha de Mariazinha, com os dedinhos ainda miudinhos, largam o copo e vão em direção ao pequeno ser vivo. Na ida, um carinho e meio esbarrão. Na volta, meio esfregão e um aconchegante afago, como daqueles que mamãe costumava conceder-lhe na hora de dormir. E pronto. Agora já podia cuidar dos bichinhos inanimados que a cercavam e habitavam o baldinho de brinquedos.
− Mã... Suzu.
− Tá suja Mimi? Vamos tomar banhinho?
− Nã... Esse suzu.
Por mais que Mariazinha se pusesse a explicar que a sujeira vinha da coisa sem vida. Dos seres inertes e sem pulsação. Não haveria de ser entendida. A cabeça girava uns cento e oitenta graus, de ombro a ombro, destacando a negação, e o curto bracinho esticado mostrava o problema. Mas a mamãe não queria ver além dos resquícios de terra que adornavam o vestidinho e que serviam de testemunhas dos divertidos minutos de Mariazinha junto à natureza.
− Bebê vai tomar banhinho agora...
Na banheira, água quentinha e patinhos de borracha. A mamãe tenta a todo custo distrair Mariazinha. Em vão. No marasmo daquele lago fictício, ela adormece. Enrolada na toalha fofinha, se aconchega no pijaminha cor-de-rosa e é conduzida ao berço, enquanto o início da tarde se anuncia junto ao som de uma leve garoa. Com o polegarzinho entre a língua e o céu da boca, Mariazinha sussura de olhos cerrados: “botinho toma bainho tamêm”.
A mamãe, ouvindo a pequena enquanto se apressava em deixar o quarto nas pontas dos pés, para e sorri. Era como se, finalmente, a manhã com sua também pequena criaturinha tivesse feito sentido.
− Pode deixar Mimi... Se depender de mim, vocês dois crescerão juntos.
− Poquinho pa mim, poquinho pu cê. Mais poquinho pa mim, mais poquinho pu cê!
Aos gritinhos, que intercalavam o diálogo, Mariazinha passava a manhã. Com as perninhas de fora, expostas ao sol agradável de antes das dez, ela carregava com as duas mãozinhas o copo de plástico cor de laranja. A mãe, de longe, observava a conversa da pequena criaturinha com o também pequeno brotinho de pinheiro enterrado na beirada do jardinzinho, que ficava aos pés do xodó da casa.
− Com quem você tá falando, Mimizinha?
O olhão arregalado volta-se em direção à voz materna.
− Com quem cê tá falando, Mimi? Conta pra mamãe, conta.
Mariazinha pisca os olhos, abre a boca e balbucia um pequeno ponto de interrogação, como se aguardasse que a questão fosse melhor formulada. Sem complemento, volta-se para o seu afazer. Leva à boca o copinho todo babado, degusta novamente o suquinho nutritivo e derruba propositadamente o restinho do líquido sobre os folículos do amiguinho verde.
A séria brincadeira é interrompida uma vez mais pela voz adulta.
− Mimizinha... Mimizi-nha... Cadê a Mimizinha?
Dessa vez não. Mariazinha tinha sérias pretensões de continuar alimentando o brotinho. Não iria, de forma alguma, deixar que as perguntas bobas da mamãe lhe tirassem a concentração.
A palminha da mão branquinha de Mariazinha, com os dedinhos ainda miudinhos, largam o copo e vão em direção ao pequeno ser vivo. Na ida, um carinho e meio esbarrão. Na volta, meio esfregão e um aconchegante afago, como daqueles que mamãe costumava conceder-lhe na hora de dormir. E pronto. Agora já podia cuidar dos bichinhos inanimados que a cercavam e habitavam o baldinho de brinquedos.
− Mã... Suzu.
− Tá suja Mimi? Vamos tomar banhinho?
− Nã... Esse suzu.
Por mais que Mariazinha se pusesse a explicar que a sujeira vinha da coisa sem vida. Dos seres inertes e sem pulsação. Não haveria de ser entendida. A cabeça girava uns cento e oitenta graus, de ombro a ombro, destacando a negação, e o curto bracinho esticado mostrava o problema. Mas a mamãe não queria ver além dos resquícios de terra que adornavam o vestidinho e que serviam de testemunhas dos divertidos minutos de Mariazinha junto à natureza.
− Bebê vai tomar banhinho agora...
Na banheira, água quentinha e patinhos de borracha. A mamãe tenta a todo custo distrair Mariazinha. Em vão. No marasmo daquele lago fictício, ela adormece. Enrolada na toalha fofinha, se aconchega no pijaminha cor-de-rosa e é conduzida ao berço, enquanto o início da tarde se anuncia junto ao som de uma leve garoa. Com o polegarzinho entre a língua e o céu da boca, Mariazinha sussura de olhos cerrados: “botinho toma bainho tamêm”.
A mamãe, ouvindo a pequena enquanto se apressava em deixar o quarto nas pontas dos pés, para e sorri. Era como se, finalmente, a manhã com sua também pequena criaturinha tivesse feito sentido.
− Pode deixar Mimi... Se depender de mim, vocês dois crescerão juntos.
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