sábado, 20 de junho de 2009

À 25 de Março... (Parte 2)


- Olha brow, ficou maneiro em você, hein?


Foi assim mesmo, foram com essas palavras que um dos inúmeros figurantes da rua 25 de Março interrompeu minha trajetória para me oferecer um negócio da China. Que era da China eu não tinha a menor dúvida, até que porque vinha escrito "made in China", mas se era legal aí já eram outros quinhentos, ou melhor, outros cenzão. A marca do relógio na mão do desconhecido eu não tive tempo de ver, pois com a minha recusa ele logo focou sua lábia no pedestre que vinha atrás de mim, mas cinco passos depois me deparei com um sujeito mais suspeito ainda. Era um carinha com cara de boliviano. Não tenho nada contra bolivianos, mas aquele vendedor seria o último na Terra de quem eu compraria algo.


- Tá precisando de toca CD e DVD pra carro? Comigo é bem baratinho!


- E por acaso você está se escondendo da polícia pra falar baixinho assim comigo? Foi exatamente isso que pensei. No entanto, preferi apenas agradecer tão bondosa oferta e seguir meu caminho.


Depois de recuperar as forças num dos MC Donald´s que sempre aparecem no seu caminho, afinal, confiar o estômago a qualquer uma daquelas barraquinhas não dava, fiz o caminho inverso da 25, ou seja, voltei pela calçada oposta. Foi emocionante ver um princípio de fuga dos ambulantes quando alguém gritou: "olha o rapa".


Eles vivem com os olhares distantes e com a toalha de sua banquinha com nós dados nas pontas. Tudo para facilitar o recolhimento e o desaparecimento da muamba.


Um policial militar, interpretando um honesto fiscal do comércio legalizado aproveitou o espaço deixado por alguns poucos camelôs que saíram ao ouvir o falso alerta, para exclamar: "se eu tiver que voltar aqui novamente, não vai sobrar mercadoria. Vocês estão avisados". Hipocrisia, demagogia pura. Quem anda por lá percebe que não passa de teatro.


Minutos antes, o próprio policial se encontrava em pé observando o comércio ilegal e nada fazia. A Guarda Municipal Metropolitana também, indiferente a tudo. Não deu para ver o que motivou a repentina inserta da polícia, mas logo logo a normalidade voltou ao local e os ambulantes puderam faturar a vontade.


E como faturam... E cá entre nós, são pessoas que assim como qualquer outra precisa defender o seu. A pergunta que fica é: por que raios o poder público não legaliza a situação? Por que não se desburocratiza o sistema para permitir que qualquer um que tenha vontade de trabalhar trabalhe?


A resposta só pode ser esta: porque do jeito que está está bom para os que detém o poder. O chapéu tem que estar aberto para que o homem público possa acenar com a possibilidade de enchê-lo.

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