Ao meu lado no que se tornou uma verdadeira aventura, estava Carlos Henrique Drovetto Júnior (acho que era esse o nome dele), que, pela proximidade alfabética com o meu Carlos Gustavo, havia sido meu vizinho de carteira, naquele ano, em três vestibulares. Se bem me lembro, ele se sentou atrás de mim nos vestibulares da Unicamp, Fuvest e Unesp.
A coincidência tratou de nos unir e, após o terceiro vestibular, combinávamos de ir juntos à Mogi. Enquanto eu me matava de estudar para medicina, ele tentava Fisioterapia, curso menos concorrido.
Fomos para Mogi com o pai de Drovetto. Lá, procuramos em todos os hotéis um quarto que coubesse em nosso bolso. A aventura começou quando decidimos dormir as duas noites num hotel, de propriedade de um português safado, localizado a uns 2 quilômetros do câmpus. Sinceramente, não consigo me lembrar do nome, apenas do apelido que tratamos de colocar na espelunca: Mumu. Do Latim, 'Muquifus est'.
Não é que o Mumu fosse um hotel ruim. Longe disso. Pra ficar ruim, ele ainda teria que receber muitas melhorias. Melhorias estas que o safado do português, que alugava os quartos para a prostituição mogiense (disso só saberíamos mais tarde), não estava disposto a fazer, óbvio.
O fato é que, enquanto eu e o Drovetto, na presença do pai do mesmo, acertávamos as diárias com o português, tudo parecia em ordem.
- O senhor pode ficar tranquilo, porque nosso hotel é muito bem conceituado. É um hotel de família - Exclamava o luso ao pai do Drovetto - E se vocês quiserem almoçar ou jantar, existe um restaurante muito bom aqui mesmo, na esquina desta rua, onde a comida é caseira, muito bem feitinha e bem baratinha.
Outra armadilha, pois o restaurante também era dele.
Ao entrarmos no quarto que dividiríamos, a triste constatação: havíamos caído no conto do vigário, ou melhor, do português. Um cheiro de mofo insuportável em um cubículo sem qualquer higiene. Apenas uma cama de casal, com um colchão fino e um banheiro que, ao mesmo tempo em que se tomava banho, se escovava o dente.
Logo na primeira noite, pouco antes de tentarmos dormir, vimos o portuga alugando, por meia hora, quartos para casais que se formavam às pressas na calçada do Centro (nesse eufemismo eu me superei, hein?).
No quarto, um cara-e-coroa mal jogado, deu-me o direito à cama, restando ao Drovetto, a opção do chão com um colchãozinho macabro, daqueles que Freddy Krueger teria receio de dormir.
Deitamos e, por via das dúvidas, não apagamos a luz. Logo percebi que a cama não era a melhor opção, pois o colchão de tão fino permitia que eu sentisse o estrado da cama nas costas. Mas como todo vestibulando tem ideias criativas, tive a minha também, dobrando o fino colchão em dois e transformando assim, uma cama de casal em uma de solteiro.
De nada adiantou.
- Cara, quer fazer o favor de dormir! Reclamava Drovetto ao me ouvir virar de um lado para o outro impaciente.
- Meu, você fala assim, porque tá aí, no maciozinho. Retruquei com má intenção.
- Você quer trocar?
- Só se for agora!
Enquanto trocávamos de lugar, ouvíamos vozes do quarto ao lado.
- Nossa minha princesa, mas como ocê tá cherosa!
- Oh minha preta, venha aqui que eu vou lhe dar um trato!
Prostitutas faziam a alegria dos peões. E faziam também nossa vontade de sair dali e ir dormir debaixo de qualquer ponte, aumentar a cada minuto.
Continua...
*******************************
Foto: essa era a porta do nosso quarto, que dava para um quintal, onde os peões e as 'princesas' se encontravam pouco antes de 'se conhecerem melhor'